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07 julho 2009

Quando eu morrer...





Quando eu morrer, não digas a ninguém que foi por ti.
Cobre o meu corpo frio com um desses lençóis
que alagámos de beijos quando eram outras horas
nos relógios do mundo e não havia ainda quem soubesse
de nós; e leva-o depois para junto do mar, onde possa
ser apenas mais um poema - como esses que eu escrevia
assim que a madrugada se encostava aos vidros e eu
tinha medo de me deitar só com a tua sombra. Deixa

que nos meus braços pousem então as aves ( que , como eu,
trazem entre as penas a saudade de um verão carregado
de paixões). E planta à minha volta uma fiada de rosas
brancas que chamem pelas abelhas, e um cordão de árvores
que perfurem a noite - porque a morte deve ser clara
como o sal na baínha das ondas, e a cegueira sempre
me assustou ( e eu já ceguei de amor, mas não contes
a ninguém que foi por ti). Quando eu morrer, deixa-me

a ver o mar do alto de um rochedo e não chores, nem
toques com os teus lábios a minha boca fria. E promete-me
que rasgas os meus versos em pedaços tão pequenos
como pequenos foram sempre os meus ódios; e que depois
os lanças na solidão de um arquipélago e partes sem olhar
para trás nenhuma vez: se alguém os vir de longe brilhando
na poeira, cuidará que são flores que o vento despiu, estrelas
que se escaparam das trevas, pingos de luz, lágrimas de sol,
ou penas de um anjo que perdeu as asas por amor.



Maria do Rosário Pedreira
(in O Canto do Vento nos Ciprestes)

Desejo-te...

Para que existas em mim
Para que definitivamente possa ter-te, e no
Meu corpo feito de areia desmaio, a cada vaga de espuma branca
Que célere, avança sobre mim quando tu, em artes de feiticeiro
Me invades e invocas aos céus
Todos os santuários repletos de desejos.
São iguarias de espécie o que me dás, delicados paladares exóticos,
E quando à noitinha em êxtase eu bebo o sémen da vida que de ti brota,
Murmuro então, o teu nome na minha cama, para
Que ele inunde o lençol que me cobre.
Oh! Sim, eu murmuro o teu nome, porque só as coisas murmuradas são
Audíveis aos anjos, que dançam essa dança, que é dar-te diante de mim,
Na imensidão do espaço onde o meu corpo te aperta sufocando o ar que
Nos separa.
É o querer ter-te em mim, é o querer que os meus olhos
Possam ver, mais para além da simples miragem de ti!